quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um lobo diferente...

UM LOBO COM BOM CORAÇÃO

"Havia na floresta
Um lobo com bom coração;
Comovia-se facilmente
Apesar de comilão.
Era um grande problema
Sempre que queria comer.
As lamentações das presas
Faziam-no esmorecer.
Um dia,
Cruzou-se com um coelho,
Que rapidamente agarrou.
Mas, ao ver que tinha filhos,
De imediato o largou.
Percorreu mais uns metrinhos
E um esquilo viu passar.
Era pequeno, é certo
Mas dava para a fome matar.
Foi atrás devagarinho,
De nada adiantou.
Porque o pobre, coitadinho,
Ao vê-lo implorou:
-Sou um esquilo indefeso,
Não chego para te alimentar.
Para ficares bem saciado,
Muitos esquilos tens de matar...
-Tens razão pequeno esquilo!
Não davas para a cova de um dente...
E o esquilo lá escapou,
A dar pulos de contente.
De repente ouviu barulho,
E pôs-se de imediato alerta;
Desta vez foi enganado,
Por uma raposa muito esperta...
-Como estás, querido amigo?
Nem sabes o que me aconteceu...
Meu irmão corre perigo,
Por causa de uma cobra que o mordeu...
Não posso perder mais tempo,
Porque ele está muito mal...
Amigo, até à próxima,
Vou a caminho do hospital.
E mais uma vez o lobo,
Ficou sem refeição.
Tudo por dar ouvidos,
Ao seu grande coração.
Mais à frente reparou,
Numa bonita casinha.
Bateu à porta e entrou
E viu na cama uma avozinha.
-Estou tão doente netinha!
Lamentou-se a pobre avó.
-Por favor faz-me companhia,
Não me deixes ficar só!
Já não sirvo para nada,
Nem faço mal a ninguém!
Sinto-me fraca e entrevada,
E o meu ultimo desejo é ver tua mãe!
O lobo, lavado em lágrimas,
Com um quadro tão real.
Afastou-se mais uma vez,
Sem coragem para fazer mal.
Ao longe e no meio das árvores,
Viu uma sombra amarela.
E logo se apercebeu,
Tratar-se de uma apetitosa gazela.
-Ai, meu deus
Que me aconteceu...
O meu único e querido filho.
Foi brincar para o bosque e desapareceu....
Sou uma mãe infeliz,
Ajude-me lobo amigo!
Que o meu pequeno e indefeso filho,
Corre, concerteza perigo.
O lobo não ajudou
Mas mandou-a desaparecer.
Pois a fome apertava,
E era difícil sobreviver.
Desesperado e cansado
Sem saber o que fazer.
Três porquinhos encontrou,
Junto ao lago, a beber.
-Ora cá está!pensou ele.
Um bom e merecido Jantar.
Para o almoço de amanha guardo um,
E agora vou lanchar.
Os porquinhos, muito tristes,
Como quem perde alguém.
Pediram um ultimo desejo:
Despedirem-se da mãe.
Tocaram uma linda canção,
Que o comoveu fortemente.
E o seu pobre coração,
Não resistiu novamente.
Já em estado de fraqueza,
Munido de um mau estar constante,
À janela de uma grande casa
Viu um enorme gigante.
Com violência à porta bateu,
E o gigante para o amedrontar;
Mostrou-lhe criancinhas presas,
Destinadas a matar...
Assim, mereceu a revolta do lobo,
Que o devorou num instante.
Libertando as criancinhas,
Do grande a malvado gigante.
O lobo ficou saciado,
E deitou-se a descansar.
Até que a fome aperte de novo,
E contra o seu coração, tenha quer lutar."


Elvira Pereira, Edições Nova Gaia, 2002

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